Trancar o dedo numa porta dói. Bater com o queixo no chão dói. Torcer o tornozelo dói. Um tapa, um soco, um pontapé, dóem. Dói bater a cabeça na quina da mesa, dói morder a língua, dói cólica, cárie e pedra no rim. Mas o que mais dói é saudade.
Saudade de um irmão que mora longe. Saudade de uma cachoeira da infância. Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais. Saudade do pai que já morreu. Saudade de um amigo imaginário que nunca existiu. Saudade de uma cidade. Saudade da gente mesmo, quando se tinha mais audácia e menos cabelos brancos. Dóem essas saudades todas.
Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama. Saudade da pele, do cheiro, dos beijos. Saudade da presença, e até da ausência consentida. Você podia ficar na sala e ele no quarto, sem se verem, mas sabiam-se lá. Você podia ir para o aeroporto e ele para o dentista, mas sabiam-se onde. Você podia ficar o dia sem vê-lo, ele o dia sem vê-la, mas sabiam-se amanhã. Mas quando o amor de um acaba, ao outro sobra uma saudade que ninguém sabe como deter.
Saudade é não saber. Não saber mais se ele continua se gripando no inverno. Não saber mais se ela continua clareando o cabelo. Não saber se ele ainda usa a camisa que você deu. Não saber se ela foi na consulta com o dermatologista como prometeu. Não saber se ele tem comido frango de padaria, se ela tem assistido as aulas de inglês, se ele aprendeu a entrar na Internet, se ela aprendeu a estacionar entre dois carros, se ele continua fumando Carlton, se ela continua preferindo Pepsi, se ele continua sorrindo, se ela continua dançando, se ele continua pescando, se ela continua lhe amando.
Saudade é não saber. Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos, não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento, não saber como frear as lágrimas diante de uma música, não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.
Saudade é não querer saber. Não querer saber se ele está com outra, se ela está feliz, se ele está mais magro, se ela está mais bela. Saudade é nunca mais querer saber de quem se ama, e ainda assim, doer.
Martha Medeiros
era uma vez
sexta-feira, 9 de setembro de 2011
domingo, 4 de setembro de 2011
Como é que se esquece alguém que se ama? Como é que se esquece alguém que nos faz falta e que nos custa mais lembrar que viver? Quando alguém se vai embora de repente como é que se faz para ficar? Quando alguém morre, quando alguém se separa - como é que se faz quando a pessoa de quem se precisa já lá não está?
As pessoas têm de morrer; os amores de acabar. As pessoas têm de partir, os sítios têm de ficar longe uns dos outros, os tempos têm de mudar Sim, mas como se faz? Como se esquece? Devagar. É preciso esquecer devagar. Se uma pessoa tenta esquecer-se de repente, a outra pode ficar-lhe para sempre. Podem pôr-se processos e acções de despejo a quem se tem no coração, fazer os maiores escarcéus, entrar nas maiores peixeiradas, mas não se podem despejar de repente. Elas não saem de lá. Estúpidas! É preciso aguentar. Já ninguém está para isso, mas é preciso aguentar. A primeira parte de qualquer cura é aceitar-se que se está doente. É preciso paciência. O pior é que vivemos tempos imediatos em que já ninguém aguenta nada. Ninguém aguenta a dor. De cabeça ou do coração. Ninguém aguenta estar triste. Ninguém aguenta estar sozinho. Tomam-se conselhos e comprimidos. Procuram-se escapes e alternativas. Mas a tristeza só há-de passar entristecendo-se. Não se pode esquecer alguem antes de terminar de lembrá-lo. Quem procura evitar o luto, prolonga-o no tempo e desonra-o na alma. A saudade é uma dor que pode passar depois de devidamente doída, devidamente honrada. É uma dor que é preciso aceitar, primeiro, aceitar.
É preciso aceitar esta mágoa esta moinha, que nos despedaça o coração e que nos mói mesmo e que nos dá cabo do juízo. É preciso aceitar o amor e a morte, a separação e a tristeza, a falta de lógica, a falta de justiça, a falta de solução. Quantos problemas do mundo seriam menos pesados se tivessem apenas o peso que têm em si , isto é, se os livrássemos da carga que lhes damos, aceitando que não têm solução.
Não adianta fugir com o rabo à seringa. Muitas vezes nem há seringa. Nem injecção. Nem remédio. Nem conhecimento certo da doença de que se padece. Muitas vezes só existe a agulha.
Dizem-nos, para esquecer, para ocupar a cabeça, para trabalhar mais, para distrair a vista, para nos divertirmos mais, mas quanto mais conseguimos fugir, mais temos mais tarde de enfrentar. Fica tudo à nossa espera. Acumula-se-nos tudo na alma, fica tudo desarrumado.
O esquecimento não tem arte. Os momentos de esquecimento, conseguidos com grande custo, com comprimidos e amigos e livros e copos, pagam-se depois em condoídas lembranças a dobrar. Para esquecer é preciso deixar correr o coração, de lembrança em lembrança, na esperança de ele se cansar.
Miguel Esteves Cardoso, in 'Último Volume'
As pessoas têm de morrer; os amores de acabar. As pessoas têm de partir, os sítios têm de ficar longe uns dos outros, os tempos têm de mudar Sim, mas como se faz? Como se esquece? Devagar. É preciso esquecer devagar. Se uma pessoa tenta esquecer-se de repente, a outra pode ficar-lhe para sempre. Podem pôr-se processos e acções de despejo a quem se tem no coração, fazer os maiores escarcéus, entrar nas maiores peixeiradas, mas não se podem despejar de repente. Elas não saem de lá. Estúpidas! É preciso aguentar. Já ninguém está para isso, mas é preciso aguentar. A primeira parte de qualquer cura é aceitar-se que se está doente. É preciso paciência. O pior é que vivemos tempos imediatos em que já ninguém aguenta nada. Ninguém aguenta a dor. De cabeça ou do coração. Ninguém aguenta estar triste. Ninguém aguenta estar sozinho. Tomam-se conselhos e comprimidos. Procuram-se escapes e alternativas. Mas a tristeza só há-de passar entristecendo-se. Não se pode esquecer alguem antes de terminar de lembrá-lo. Quem procura evitar o luto, prolonga-o no tempo e desonra-o na alma. A saudade é uma dor que pode passar depois de devidamente doída, devidamente honrada. É uma dor que é preciso aceitar, primeiro, aceitar.
É preciso aceitar esta mágoa esta moinha, que nos despedaça o coração e que nos mói mesmo e que nos dá cabo do juízo. É preciso aceitar o amor e a morte, a separação e a tristeza, a falta de lógica, a falta de justiça, a falta de solução. Quantos problemas do mundo seriam menos pesados se tivessem apenas o peso que têm em si , isto é, se os livrássemos da carga que lhes damos, aceitando que não têm solução.
Não adianta fugir com o rabo à seringa. Muitas vezes nem há seringa. Nem injecção. Nem remédio. Nem conhecimento certo da doença de que se padece. Muitas vezes só existe a agulha.
Dizem-nos, para esquecer, para ocupar a cabeça, para trabalhar mais, para distrair a vista, para nos divertirmos mais, mas quanto mais conseguimos fugir, mais temos mais tarde de enfrentar. Fica tudo à nossa espera. Acumula-se-nos tudo na alma, fica tudo desarrumado.
O esquecimento não tem arte. Os momentos de esquecimento, conseguidos com grande custo, com comprimidos e amigos e livros e copos, pagam-se depois em condoídas lembranças a dobrar. Para esquecer é preciso deixar correr o coração, de lembrança em lembrança, na esperança de ele se cansar.
Miguel Esteves Cardoso, in 'Último Volume'
sábado, 28 de maio de 2011
Ainda me importa. Ainda me importa saber se me quises-te ou só me iludiste. Importa-me saber se este ano te vais mudar para o Porto e construir uma vida na minha cidade. Importa-me saber que apagas-te o meu número e o meu email. Importa-me saber se o teu treino correu bem e se estás cansado. Importa-me saber com quem estás e onde estás. E ainda me importa a distância que, dizias tu, nos impedia de sermos felizes juntos. Importa-me também as apostas que fazes com os teus amigos. Importa pensar que gostei de alguém que me prometeu o mundo e me tirou o universo. Importa-me se não te dei o valor que merecias. Importa-me saber que quando receber uma mensagem não será mais tua. Importa-me ainda não ouvir mais a tua voz a imitar o meu sotaque e a dizer que gosta muito de mim. Importa-me se já não vamos viver os dois numa ilha e passear de mãos dadas nas ruas da minha cidade que ainda este ano, será a tua. Importa-me ainda se nunca estivemos juntos. Importa-me também se a cor dos teus olhos ainda muda. Importa as promessas que não cumpris-te e as que não me deste tempo para cumprir. Importa-me saber das vezes em que vieste ao Porto e não me disses-te nada. Importa-me se estão três graus negativos e tu estás de t-shirt na rua. Importa-me se estás de ressaca aos domingos. Importa-me saber se viste o golo do Falcão. Importa-me ainda nunca ter sentido o teu cheiro mas cheirar algo e pensar que cheira a ti. Importa-me saber se gostas de outra pessoa. Importa-me se nos iremos cruzar numa rua. Importa-me se te irei reconhecer. Importa-me quando leio um dos teus nomes e acho que é um sinal. Importa-me também se já não te importas comigo. Importa-me não perceber como te esqueces-te de mim e daquilo que fomos tão rapidamente. Importa-me se continuas a apreciar o mesmo estilo de música ou não.Importa-me se continuo a pensar muito em ti. Importa-me o facto de teres trocado as palavras por silêncios. Importa-me não me imaginar com mais ninguém se não tu. Importa-me teres-me mudado por completo e depois partires. Importa-me. Importas-me.
terça-feira, 12 de abril de 2011
segunda-feira, 11 de abril de 2011
''Quando eu tiver 18 anos vou aí. Quando eu fizer 18 anos já tenho a carta e vou aí buscar-te. Podemos fugir para onde quiseres, ou então passea-mos de mão dada pelas ruas da tua cidade ; só temos de esperar pelos meus 18 anos. Falta mais de um ano para os meus 18 anos, mas não faz mal porque quando penso em ti o tempo voa. Quem me dera ser como tempo e voar até ai; até à tua cidade que espero que um dia seja a minha também. A nossa cidade. A nossa cidade é tão bonita. E só temos de esperar pelos meus 18 anos. E apesa de pensares o contrário, eu não me vou esquecer de ti quando fizer 18 anos. Vou-me lembrar mais e mais de ti, de nós e da nossa cidade. Do nosso mundo. Tu fizeste-me prometer que ia gostar sempre um bocadinho de ti e eu estou a cumprir a promessa. Então, porfavor, promete-me que todos aqueles planos onde gastamos noites a construi-los vão se tornar na nossa vida quando eu fizer 18 anos. És a única que quero, e todas as vezes em que me afastei de ti foi por ter medo e não suportar a dor de gostar de alguém que vivesse a mais de 200 km de mim. Confesso-te : nunca pensei que fosse possivel gostar tanto de alguém que nem sequer conheço pessoalmente. As vezes sinto-me só e conto os dias para os meus 18 anos. Tudo vai mudar, não vai? Amo-te.''
Mandaste-mo há mais de um ano. Estás quase a fazer os teus 18 anos e não te lembras de mim. Ou só te afastas-te durante estes meses todos por não suportares a dor de amar? Não interessa. Eu espero por ti e cumpro também a tua promessa.. Estou a gostar sempre um bocadinho de ti, está bem? Se quiseres, eu cumpro a minha promessa também; só temos que esperar pelos teus 18 anos.
Mandaste-mo há mais de um ano. Estás quase a fazer os teus 18 anos e não te lembras de mim. Ou só te afastas-te durante estes meses todos por não suportares a dor de amar? Não interessa. Eu espero por ti e cumpro também a tua promessa.. Estou a gostar sempre um bocadinho de ti, está bem? Se quiseres, eu cumpro a minha promessa também; só temos que esperar pelos teus 18 anos.
quinta-feira, 6 de janeiro de 2011
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